MARTA CALEJO

ANCORAGEM DO TEMPO

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As casas abandonadas do Grande Porto são imensas e contêm um sem número de vestígios de uma remota habitabilidade. Esta casa, bem como os objectos que esta continha, eram portadores de um enorme potencial narrativo.

O projecto, reinventou as histórias dessa habitação e de quem lá viveu. Um conjunto de fotos deixadas ao abandono no imóvel foram encontradas e usadas como matéria-prima do projecto.

 

Uma das dualidades do projecto, é a noção de público/ privado, sendo que, se analisarmos de forma mais atenta, constatamos que as janelas são o lugar por excelência da fronteira entre estes dois legados. Criou-se então a patir do espaço privado uma intervenção no espaço público, projectando nas janelas uma sequência de imagens. O trabalho foi pensado para ser visionado a partir do exterior, tratou-se desta forma de uma intrevenção de dentro para fora.

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A sequência de imagens foi criada a partir do material encontrado no interior da casa. Deste modo, fragmentos de memória, achados e reinterpretados, pretendem dar voz a

um conjunto de pessoas anónimas, que assim como a sua casa, foram perdidos e esquecidos na cidade. Edifícios detentores de uma memória privada, mas também coletiva são esquecidos e jazem na cidade do Porto.

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Das imagens encontradas foram cortados retalhos de rosto e pormenores de paisagem, estabeleceu-se uma ordem de entrada das imagens, sendo que foram projectadas nas três janelas, da fachada da casa, a mesma sequência de imagens. Porém a projecção foi iniciada com uma diferença de dois segundos entre elas. O resultado acabou por ser a de uma linguagem desordenada onde a aleatoriedade tomava conta do projecto, sendo que este se desenvolvia de forma autónoma. A narrativa tomava rumo próprio e a aparente rigidez e redundância inicial ia progressivamente cedendo lugar, ao aleatório e ao diálogo entre pares.